Quanto mais leio Eisntein, mais fascinante ele se torna para mim.
Aí vai um pouco mais dele, amigos. Essa é uma leitura para ser feita com calma ...Bom dia a todos ..Líbia Carlos
Aí vai um pouco mais dele, amigos. Essa é uma leitura para ser feita com calma ...Bom dia a todos ..Líbia Carlos
COMO VEJO O MUNDO
"Minha condição humana me fascina. Conheço o limite de
minha existência e ignoro por que estou nesta terra, mas às vezes o pressinto.
Pela experiência cotidiana, concreta e intuitiva, eu me descubro vivo para
alguns homens, porque o sorriso e a felicidade deles me condicionam
inteiramente, mas ainda para outros que, por acaso, descobri terem emoções
semelhantes às minhas.
E cada dia, milhares de vezes, sinto minha vida — corpo e
alma — integralmente tributária do trabalho dos vivos e dos mortos. Gostaria de
dar tanto quanto recebo e não paro de receber. Mas depois experimento o
sentimento satisfeito de minha solidão e quase demonstro má consciência ao
exigir ainda alguma coisa de outrem. Vejo os homens se
diferenciarem pelas classes sociais e sei que nada as justifica a não ser pela
violência. Sonho ser acessível e desejável para todos uma vida simples e natural, de corpo e de
espírito.
Recuso-me a crer na liberdade e neste conceito filosófico. Eu não sou livre, e sim às vezes constrangido por pressões
estranhas a mim, outras vezes por convicções íntimas. Ainda jovem,
fiquei impressionado pela máxima de Schopenhauer: “O homem pode,
é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer”; e hoje, diante do
espetáculo aterrador das injustiças humanas, esta moral me tranquiliza e me
educa. Aprendo a tolerar aquilo que me faz
sofrer. Suporto então melhor meu sentimento de responsabilidade. Ele já
não me esmaga e deixo de me levar, a mim ou aos outros, a sério demais. Vejo
então o mundo com bom humor. Não posso me preocupar com o sentido ou a
finalidade de minha existência, nem da dos outros, porque, do ponto de vista
estritamente objetivo, é absurdo. E, no entanto, como homem, alguns ideais
dirigem minhas ações e orientam meus juízos. Porque jamais considerei o prazer e a felicidade
como um fim em si e deixo este tipo de satisfação aos indivíduos reduzidos a
instintos de grupo.
Em compensação, foram ideais que suscitaram meus esforços e
me permitiram viver. Chamam-se o bem, a beleza, a verdade. Se não me identifico
com outras sensibilidades semelhantes à minha e se não me obstino
incansavelmente em perseguir este ideal eternamente inacessível na arte e na
ciência, a vida perde todo o sentido para mim. Ora, a humanidade se apaixona por
finalidades irrisórias que têm por nome a riqueza, a glória, o luxo. Desde moço
já as desprezava.
Tenho forte amor pela justiça, pelo compromisso social. Mas
com muita dificuldade me integro com os homens e em suas comunidades. Não lhes
sinto a falta porque sou profundamente um solitário. Sinto-me realmente ligado
ao Estado, à pátria, a meus amigos, a minha família no sentido completo do
termo. Mas meu coração experimenta, diante desses laços, curioso sentimento de
estranheza, de afastamento e a idade vem acentuando ainda mais essa distância.
Conheço com lucidez e sem prevenção as fronteiras da comunicação e da harmonia
entre mim e os outros homens. Com isso perdi algo da ingenuidade ou da
inocência, mas ganhei minha independência. Já não mais firmo uma opinião, um hábito ou um julgamento
sobre outra pessoa. Testei o homem. É inconsistente.
A virtude republicana corresponde a meu ideal político. Cada
vida encarna a dignidade da pessoa humana, e nenhum destino poderá justificar
uma exaltação qualquer de quem quer que seja. Ora, o acaso brinca comigo.
Porque os homens me testemunham uma incrível e excessiva admiração e veneração.
Não quero e não mereço nada. Imagino qual seja a causa profunda, mas quimérica,
de seu sentimento. Querem compreender as poucas idéias que descobri. Mas a elas
consagrei minha vida, uma vida inteira de esforço ininterrupto.
Fazer, criar, inventar exigem uma unidade de concepção, de
direção e de responsabilidade. Reconheço esta evidência. Os cidadãos
executantes, porém, não deverão nunca ser obrigados e poderão escolher sempre
seu chefe.
Ora, bem depressa e inexoravelmente, um sistema autocrático
de domínio se instala e o ideal republicano degenera. A violência
fascina os seres moralmente mais fracos. Um tirano vence por seu gênio, mas seu
sucessor será sempre um rematado canalha. Por esta razão, luto sem tréguas e
apaixonadamente contra os sistemas dessa natureza, contra a Itália
fascista de hoje e contra a Rússia soviética de hoje. A atual democracia na
Europa naufraga e culpamos por esse naufrágio o desaparecimento da ideologia
republicana. Aí vejo duas causas terrivelmente graves. Os chefes de governo não
encarnam a estabilidade e o modo da votação se revela impessoal. Ora, creio que
os Estados Unidos da América encontraram a solução desse problema. Escolhem um
presidente responsável eleito por quatro anos. Governa efetivamente e afirma de
verdade seu compromisso. Em compensação, o sistema político europeu se preocupa
mais com o cidadão, com o enfermo e o indigente. Nos mecanismos universais, o
mecanismo Estado não se impõe como o mais indispensável. Mas é a pessoa humana, livre, criadora e sensível que modela o belo
e exalta o sublime, ao passo que as massas continuam arrastadas por uma dança
infernal de imbecilidade e de embrutecimento.
A pior das instituições gregárias se intitula exército. Eu o
odeio. Se um homem puder sentir qualquer prazer em desfilar aos sons de música,
eu desprezo este homem... Não merece um cérebro humano, já que a medula
espinhal o satisfaz. Deveríamos fazer desaparecer o mais depressa possível este
câncer da civilização. Detesto com todas as forças
o heroísmo obrigatório, a violência gratuita e o nacionalismo débil. A guerra é
a coisa mais desprezível que existe. Preferiria deixar-me assassinar a
participar desta ignomínia.
No entanto, creio profundamente na humanidade. Sei que este câncer de há muito deveria ter sido extirpado. Mas
o bom senso dos homens é sistematicamente corrompido. E os culpados são:
escola, imprensa, mundo dos negócios, mundo político.
O mistério da vida me causa a mais forte emoção. É o
sentimento que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém
não conhece esta sensação ou não pode mais experimentar espanto ou surpresa, já
é um morto-vivo e seus olhos se cegaram. Aureolada de temor, é a realidade secreta
do mistério que constitui também a religião. Homens reconhecem então algo de
impenetrável a suas inteligências, conhecem, porém as manifestações desta ordem
suprema e da Beleza inalterável. Homens se confessam limitados e seu espírito
não pode apreender esta perfeição. E este conhecimento e esta confissão tomam o
nome de religião. Deste modo, mas somente deste modo, soa profundamente
religioso, bem como esses homens. Não posso imaginar um Deus a recompensar e a
castigar o objeto de sua criação. Não posso fazer idéia de um ser que sobreviva
à morte do corpo. Se semelhantes idéias germinam em um espírito, para mim é ele
um fraco, medroso e estupidamente egoísta.
Não me canso de contemplar o mistério da eternidade da vida.
Tenho uma intuição da extraordinária construção do ser. Mesmo que o esforço
para compreendê-lo fique sempre desproporcionado, vejo a Razão se manifestar na
vida.
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