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domingo, 1 de janeiro de 2012

CLARICE LISPECTOR




A síntese perfeita
       “Sou tão misteriosa que não me entendo.”

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Clarice Lispector
Clarice Lispector nasceu em  1925 na cidade de Tchetchelnik Ucrânia e faleceu   Rio de Janeiro RJ – Brasil em 1977.


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Tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector, seu nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família em direção à América.
A família Lispector era composta, até então, por Pedro (o pai), Mania (a mãe), Lea (a primogênita) e Tania (a segunda filha) . Com o início do regime comunista na Rússia, a família buscava por uma vida mais segura  em outro local,  quando  então, Seu pai consegue, em Bucareste,1922, um passaporte para toda a família. Foram para a Alemanha em fevereiro e, no porto de Hamburgo, embarcam naquele mesmo ano no navio "Cuyaba" com destino ao Brasil, após o recebimento de uma "carta de chamada" do Brasil (Ferreira, 1999)
Chegaram em Maceió em Março e por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania — irmã, todos mudam de nome: o pai passa a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia — irmã, Elisa; e Haia, em Clarice.
Para cá vieram e fixaram residência no  Recife e em 1937. Posteriormente  mudaram-se para a capital carioca  onde  a autora estudou Direito. Entretanto  a vocação da ucraniana/brasileira estava na arte de usar as palavras. Como ela mesma cita ; “A palavra é o meu domínio sobre o mundoTalvez tenha sido essa uma das muitas razões  pelas quais recebeu tantas críticas elogiosas ao romance Perto do Coração Selvagem  levando - a  receber o Prêmio Graça Aranha.
Ucraniana radicada no Brasil, ao casar-se com o Diplomata Raul Gurgel, fez ,no ano de 1944, a viagem de volta a uma Europa em guerra. Estiveram por um tempo em Nápoles servindo em um hospital durante os últimos meses da Segunda Guerra, de lá para a Suíça e depois Estados Unidos; última parada antes do retorno final ao Rio de Janeiro. A seguinte declaração  de Lispector  remete a uma maior compreensão do estado de alma  daqueles que viram de perto os horrores de uma guerra “Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.” nos remete à dificuldade de amar as diferenças que em momento bélico se tornam mais visíveis.” Clarice entendia que a compreensão é um ato de dentro para fora  e  se havia a guerra era porque a mesma teria sido iniciada no interior de cada um . Isso fica evidente no pensamento da autora “ Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.”

E mesmo tendo afirmado  que  “Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.” ela sempre se entregou aos desafios que a vida apresentava e fez parceria com o marido na Itália  em plena guerra. Não foi sem razão que ela disse [...] “Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”
Clarice Lispector entendia ter “ nascido  para amar os outros,para escrever, e para criar meus filhos.”


                   trombadeelefante.blogspot.com





 Entre suas obras mais importantes da escritora estão as reuniões de contos A Legião Estrangeira (1964) e Laços de Família (1972) e os romances A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977). 





Cronologia

Em 1940 cursando Advocacia, começou exercer a função de tradutora no Departamento de Imprensa e Propaganda, mas tornou-se redatora da Agência Nacional.

19 de janeiro de 1941 Diário do Povo Campinas (SP)-  primeira reportagem, “Onde se ensinará a ser feliz” relatando a visita da primeira-dama da República, Darcy Vargas, a um orfanato feminino.

1942 – Jornal do Brasil – como redatora de A Noite
1943-  Teve publicado o romance Perto do Coração Selvagem  teve calorosa acolhida da crítica e recebeu o Prêmio Graça Aranha.
1944 – Casa-se com o  Diplomata Maury Gurgel Valente e viveu no exterior por um tempo; em 1944  em  Nápoles, serviu num hospital durante os últimos meses da Segunda Guerra.Passou longa temporada na suíça e também nos Estados Unidos até retornar ao Rio de Janeiro .
São consideradas obras importantes da autora, as reuniões de contos A Legião Estrangeira, Laços de Família  e os romances; A Paixão Segundo G.H. e A Hora da Estrela. 
Anos 50 e 60 Correio da Manhã e Diário da Noite, Jornal do Brasil  onde assinava uma crônica semanal publicada aos sábados onde também trabalhava com Carlos Drumond de Andrade
1964 – Tem publicada a coletânea de contos em no livro cujo nome é A Legião Estrangeira  e  A Paixão Segundo G.H
1967-1973  As crônicas produzidas pela autora neste período foram reunidas no volume  (A Descoberta do Mundo)
1968- Trabalhou como entrevistadora a revista Manchete, onde assinava a rubrica “Diálogos possíveis com Clarice
1972- Laços de Família
Posteriormente na  revista Fatos & Fotos,onde trabalhou até publicação de  sua última obra naquela redação em outubro de 1977, vindo a falecer em dezembro deste mesmo ano.
1977-  Jornal Última Hora  onde passou a publicar suas crônicas no mês de fevereiro.
1977 – Tem publicado  A Hora da Estrela
 1984 -  O filho Paulo Gurgel Valente reuniu os textos da                      mãe Clarice numa coletânea intitulada  A descoberta do mundo.




Texto que particularmente aprecio
Banhos de mar
                            Clarice Lispector

Meu pai acreditava que todos os anos se devia fazer uma cura de banhos de mar. E nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda, Recife.
Meu pai também acreditava que o banho de mar salutar era o tomado antes de o sol nascer. Como explicar o que eu sentia de presente inaudito em sair de casa de madrugada e pegar o bonde vazio que nos levaria para Olinda ainda na escuridão?
De noite eu ia dormir, mas o coração se mantinha acordado, em expectativa. E de puro alvoroço, eu acordava as quatro e pouco da madrugada e despertava o resto da família. Vestíamos depressa e saíamos em jejum. Porque meu pai acreditava que assim devia ser: em jejum.
Saímos para uma rua toda escura, recebendo a brisa da pré-madrugada. E esperávamos o bonde. Até que lá de longe ouvíamos o seu barulho se aproximando. Eu me sentava bem na ponta do banco: e minha felicidade começava. Atravessar a cidade escura me dava algo que jamais tive de novo. No bonde mesmo o tempo começava a clarear e uma luz trêmula de sol escondido nos banhava e banhava o mundo.
Eu olhava tudo: as poucas pessoas na rua, a passagem pelo campo com os bichos-de-pé: "Olhe um porco de verdade!" gritei uma vez, e a frase de deslumbramento ficou sendo uma das brincadeiras da minha família, que de vez em quando me dizia rindo: "Olhe um porco de verdade."
Passávamos por cavalos belos que esperavam de pé pelo amanhecer.
Eu não sei da infância alheia. Mas essa viagem diária me tornava uma criança completa de alegria. E me serviu como promessa de felicidade para o futuro. Minha capacidade de ser feliz se revelava. Eu me agarrava, dentro de uma infância muito infeliz, a essa ilha encantada que era a viagem diária.
No bonde mesmo, começava a amanhecer. Meu coração batia forte ao nos aproximarmos de Olinda. Finalmente saltávamos e íamos andando para as cabinas pisando em terreno já de areia misturada com plantas. Mudávamos de roupa nas cabinas. E nunca um corpo desabrochou como o meu quando eu saía da cabina e sabia o que me esperava.
O mar de Olinda era muito perigoso. Davam-se alguns passos em um fundo raso e de repente caía-se num fundo de dois metros, calculo.
Outras pessoas também acreditavam em tomar banho de mar quando o sol nascia. Havia um salva vidas que, por uma ninharia de dinheiro, levava as senhoras para o banho: abria os dois braços, e as senhoras, em cada um dos braços, agarravam o banhista para lutar contra as ondas fortíssimas do mar.
O cheiro do mar me invadia e me embriagava. As algas boiavam. Oh, bem sei que não estou transmitindo o que significavam como vida pura esses banhos em jejum, com o sol se levantando pálido ainda no horizonte. Bem sei que estou tão emocionada que não consigo escrever. O mar de Olinda era muito iodado e salgado. E eu fazia o que no futuro sempre iria fazer: com as mãos em concha, eu as mergulhava nas águas, e trazia um pouco de mar até minha boca: eu bebia diariamente o mar, de tal modo queria me unir a ele.
Não demorávamos muito. O sol já se levantara todo, e meu pai tinha que trabalhar cedo. Mudávamos de roupa, e a roupa ficava impregnada de sal. Meus cabelos salgados me colavam na cabeça.
Então esperávamos, ao vento, a vinda do bonde para Recife. No bonde a brisa ía secando meus cabelos duros de sal. Eu às vezes lambia meu braço para sentir sua grossura de sal e iodo.
Chegávamos em casa e só então tomávamos café. E quando eu me lembrava de que no dia seguinte o mar se repetiria para mim, eu ficava séria de tanta ventura e aventura.
Meu pai acreditava que não se devia tomar logo banho de água doce: o mar devia ficar na nossa pele por algumas horas. Era contra a minha vontade que eu tomava um chuveiro que me deixava límpida e sem o mar.
A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a frescura da inocência o sol vermelho se levantar? Nunca mais?
Nunca mais.
Nunca.




VÍDEOS











 PARTE  2



PARTE 3

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