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sábado, 28 de setembro de 2013

Pensando gestão rural - e o continuum rural-urbano por Carolina Bilibio


Coluna Jornal das Missões- 26.09.2013


Carolina Bilibio é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras, com estágio na Universidade de Kassel, Alemanha. Possui graduação em agronomia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br
 




Pensando gestão rural - e o continuum rural-urbano
O espaço urbano - cidade e o rural – fazenda, foram historicamente definidos, como sendo locais opostos da sociedade ou mundos diferentes, por meio de uma visão dualista. Na atualidade se discute o continuum rural-urbano, ou seja, se aceita uma interligação entre o rural e o urbano que aproxima e integra os dois polos sem destruir as particularidades (Jacinto et al. 2012).
Alguns autores definiram a relação entre rural e urbano como rurbano (Graziano da Silva, 2002), enfatizando principalmente o desenvolvimento de atividades não agrícolas ou urbanas no meio rural como serviços, indústrias e lazer. Outros pesquisadores destacam que fatores relacionados à modernização,  técnica,  ciência,  informação,  busca por produtividade e à incorporação hábitos de consumo urbanos no meio rural contribuíram igualmente aproximar o campo da cidade.
Porém, os efeitos do continuum rural-urbano podem ser visualizados não somente no meio rural como também nos centros urbanos. Prova disso são as atividades agrícolas desenvolvidas na região periurbana e urbana das cidades. A região periurbana é a zona de transição entre cidade e campo, onde se mesclam atividades rurais e urbanas (Pereira, 2012).
Nas cidades do leste africano – África oriental, que inclui países como Quênia, Tanzânia, Moçambique, Uganda e Etiópia, pelo menos um terço da população urbana está envolvida em atividades agrícolas, e em algumas cidades da África Ocidental, este percentual sobe para 50% (Smith & Prain, 2006).
Na China, 75% dos vegetais fornecidos a cidade de Shanghai, segunda maior cidade do país, são produzidos dentro de um raio de 10 quilômetros dos pontos de venda, e em Beijing (capital da China), 85% dos vegetais e 79% das frutas são provenientes destas proximidades. Já em Lima (Peru), entre 15 e 20% das famílias urbanas estão envolvidas na agricultura urbana ou periurbana.
No Brasil, a cidade de Belo Horizonte recebe destaque por participar do Programa Global Cidades Cultivando Para o Futuro – CCF, que é coordenado pela Fundação RUAF – Rede Internacional de Centros de Recursos em Agricultura Urbana e Segurança Alimentar, com sede na Holanda.
Em Belo Horizonte, a agricultura urbana é realizada por meio da produção agropecuária – cultivo de hortaliças, temperos, raízes e tubérculos; manejo de áreas remanescentes de vegetação - manejo de plantas nativas com propriedades medicinais; produção de insumos - composto orgânico, sementes e mudas; beneficiamento - preparação de remédios e alimentos; comercialização dos produtos – venda dos produtos agrícolas.
As vantagens da agricultura urbana e periurbana, desenvolvida nas proximidades das aglomerações humanas, estão relacionadas com o fornecimento de alimentos e vegetais frescos, formação de renda, criação de trabalho, promoção da segurança alimentar e sustentabilidade ambiental. Já as desvantagens estão associadas aos riscos de contaminações por bactérias, poluição do ar que afeta as culturas e a transmissão de doenças de animais para os seres humanos.
O esforço em desenvolver a agricultura urbana e periurbana parece ser também uma resposta da sociedade aos escândalos recentes envolvendo a produção de alimentos, no Brasil – o caso da adição de ureia no leite; na Europa, - a adição de carne de cavalo em lasanhas etc. Se antes, o incentivo era o da circulação global de alimentos, agora parece ser o da produção local, pois afinal, todos querem saber o que estão consumindo.
O continuum rural-urbano foi discutido como tema central do Tropentag 2013, conferência internacional que aconteceu entre os dias 17 e 19 de setembro, na cidade de Stuttgart, Alemanha - Universidade de Hohenheim. Na oportunidade vários especialistas abordaram o tema, com destaque para o projeto “carrotcity” (www.carrotcity.org), com sede em Toronto (Canadá), que descreve exemplos e casos de como projetar em todas as escalas a produção de alimentos nas cidades, casas, telhados, comunidades etc.
Para finalizar, fica a reflexão com a frase: "Urban agriculture is only a complementary to the rural agriculture, however it is necessary for food and agriculture literacy" (Dr. Joe Nasr, Tropentag 2013) – “Agricultura urbana é somente um complemento à agricultura rural, no entanto é necessária para produção de alimentos e alfabetização agrícola”.


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