Coluna Jornal das Missões- 26.09.2013
Carolina Bilibio é doutora em
Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras, com estágio na
Universidade de Kassel, Alemanha. Possui graduação em agronomia pela
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí.
Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - Capes. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br
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Pensando
gestão rural - e o continuum rural-urbano
O
espaço urbano - cidade e o rural – fazenda, foram historicamente definidos,
como sendo locais opostos da sociedade ou mundos diferentes, por meio de uma
visão dualista. Na atualidade se discute o continuum rural-urbano,
ou seja, se aceita uma interligação entre o rural e o urbano que
aproxima e integra os dois polos sem destruir as particularidades (Jacinto et
al. 2012).
Alguns autores definiram a relação
entre rural e urbano como rurbano (Graziano da Silva, 2002), enfatizando
principalmente o desenvolvimento de atividades não agrícolas ou urbanas no meio
rural como serviços, indústrias e lazer. Outros pesquisadores destacam que
fatores relacionados à modernização, técnica, ciência,
informação, busca por
produtividade e à incorporação hábitos de consumo urbanos no meio rural
contribuíram igualmente aproximar o campo da cidade.
Porém,
os efeitos do continuum rural-urbano podem ser visualizados não somente no meio
rural como também nos centros urbanos. Prova disso são as atividades agrícolas
desenvolvidas na região periurbana e urbana das cidades. A região periurbana é
a zona de transição entre cidade e campo, onde se mesclam atividades rurais e
urbanas (Pereira, 2012).
Nas
cidades do leste africano – África oriental, que inclui países como Quênia,
Tanzânia, Moçambique, Uganda e Etiópia, pelo menos um terço da população urbana
está envolvida em atividades agrícolas, e em algumas cidades da África
Ocidental, este percentual sobe para 50% (Smith & Prain, 2006).
Na
China, 75% dos vegetais fornecidos a cidade de Shanghai, segunda maior cidade
do país, são produzidos dentro de um raio de 10 quilômetros dos pontos de
venda, e em Beijing (capital da China), 85% dos vegetais e 79% das frutas são
provenientes destas proximidades. Já em Lima (Peru), entre 15 e 20% das
famílias urbanas estão envolvidas na agricultura urbana ou periurbana.
No Brasil,
a cidade de Belo Horizonte recebe destaque por participar do Programa Global
Cidades Cultivando Para o Futuro – CCF, que é coordenado pela Fundação RUAF –
Rede Internacional de Centros de Recursos em Agricultura Urbana e Segurança
Alimentar, com sede na Holanda.
Em Belo
Horizonte, a agricultura urbana é realizada por meio da produção agropecuária –
cultivo de hortaliças, temperos, raízes e tubérculos; manejo de áreas remanescentes de vegetação - manejo de plantas
nativas com propriedades medicinais; produção de insumos - composto orgânico,
sementes e mudas; beneficiamento - preparação de remédios e alimentos;
comercialização dos produtos – venda dos produtos agrícolas.
As
vantagens da agricultura urbana e periurbana, desenvolvida nas proximidades das
aglomerações humanas, estão relacionadas com o fornecimento de alimentos e
vegetais frescos, formação de renda, criação de trabalho, promoção da segurança
alimentar e sustentabilidade ambiental. Já as desvantagens estão associadas aos
riscos de contaminações por bactérias, poluição do ar que afeta as culturas e a
transmissão de doenças de animais para os seres humanos.
O
esforço em desenvolver a agricultura urbana e periurbana parece ser também uma
resposta da sociedade aos escândalos recentes envolvendo a produção de
alimentos, no Brasil – o caso da adição de ureia no leite; na Europa, - a
adição de carne de cavalo em lasanhas etc. Se antes, o incentivo era o da
circulação global de alimentos, agora parece ser o da produção local, pois
afinal, todos querem saber o que estão consumindo.
O
continuum rural-urbano foi discutido como tema central do Tropentag 2013,
conferência internacional que aconteceu entre os dias 17 e 19 de setembro, na
cidade de Stuttgart,
Alemanha - Universidade de Hohenheim. Na oportunidade vários especialistas
abordaram o tema, com destaque para o projeto “carrotcity” (www.carrotcity.org), com sede em Toronto (Canadá), que descreve exemplos e
casos de como projetar em todas as escalas a produção de alimentos nas cidades,
casas, telhados, comunidades etc.
Para finalizar, fica a reflexão com a frase: "Urban agriculture is only a
complementary to the rural agriculture, however it is necessary for food and
agriculture literacy"
(Dr. Joe Nasr, Tropentag 2013) – “Agricultura urbana é somente um complemento à
agricultura rural, no entanto é necessária para produção de alimentos e
alfabetização agrícola”.
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